quinta-feira, 9 de junho de 2011

REFLEXÕES NA SEMANA DO MEIO AMBIENTE

por znnalinha

Que médico responsável, ao observar o agravamento do quadro do paciente, insiste em doses cada vez maiores do mesmo remédio aplicado há anos, sem resultados satisfatórios?

Que médico zeloso e experiente, ao ver que a situação começa a fugir do controle, por insufiência de diversos orgãos que compõem o corpo do paciente, propõe uma cirurgia de alto risco em sua especialidade, cuidando de apenas uma parte, sem consultar outros médicos (e a família), para avaliar impactos, contraindicações, efeitos colaterais, etc?

A metáfora médica para a questão metropolitana é interessante (até porque o governador, o secretário munic. do Verde e do Meio Ambiente e diversos vereadores são médicos, e ninguém nega que esse tecido se encontra muito doente), mas paro por aí.

Quando a imprensa orgulhosamente anuncia o recorde de vendas de 26 mil carros Gol no mês passado; quando uma montadora anuncia que nunca fez uma entrega tão grande de variedade de modelos de caminhões; quando reportagem relata que a linha férroviária entre SP e RJ trabalha com 66% de capacidade ociosa, e que a ocupação desse ócio tiraria 5.000 caminhões/dia das estradas; quando o drama dos congestionamentos diários já assombra nosso curto prazo, ameaçando paralisias urbanas que vão
cancrosar o sistema econômico, com todas as consequências catastróficas para um aglomerado de 20 milhões de pessoas em uma área menor do que fazendas em Mato Grosso ou Goiás…

… a situação não está pra lá de Bagdá?

Nesta semana do meio ambiente em que o C40 (grupo das 40 maiores cidades do mundo) se reune em faustosos espaços e hoteis da Zona Sul paulistana, com sua dinâmica de revista Exame e de mercados financeirizados…

Nesta semana em que mais um grande empreendimento imobiliários dizima uma área verde de 13 mil m2 no Tremembé (ou escolha uma área, maior ou menor, mais perto de sua casa)…

Nesta semana em que completamos 6 meses para a próxima temporada de chuvas, com a questão do lixo (ou do tesouro dos resíduos sólidos) intocada, e a cidade muito mais impermeabilizada…

“Egoisticamente”, nessa semana, reduzir tudo isso a uma única questão, talvez emblemática, talvez enganado (julguem e opinem), o Rodoanel Trecho Norte.

Não é ele:

- Mais do mesmo remédio prescrito há 80 anos para os problemas de mobilidade na cidade?
- Um emprendimento na contramão da história, ao incentivar o transporte por pneus e combustíveis fósseis?
- Um soco no estômago do doente, ao atravessar com uma pista de oito faixas, a meros 11 km do centro da cidade, uma área de preservação ambiental, tradicional santuário verde acoplado à metrópole?
- Um exercício de soberba e autoritarismo, ao determinar, sem ampla consulta, um empreendimento (fosse lá qual fosse o empreendimento) de R$ 6 bilhões?
- Uma demonstração de intransigência e ganância, ao empurrar goela abaixo a obra em afogadilho de decisão, contra resistências de diversas ordens, sem o necessário e aprofundado estudo de impacto sócio-ambiental?
- Um erro estratégico, num momento em que a cidade trava, mobilizando esse volume de recursos no trecho menos importante para a circulação de carga, dos 4 que comporiam o Rodoanel, em vez de alocar essa verba em emergenciais e estratégicas ações pela mobilidade urbana, como corredores de ônibus decentes (eficientes)?
- Uma cega adesão a um nome: ANEL, quando o próprio então governador Serra usou a expressão RODOFERRADURA, insinuando a não realização do trecho Norte?
- Um atestado de estupidez sem tamanho, quando se olha para a cidade não a partir (de dentro) de carros gostosamente equipados, com a endorfina do prazer individual cegando reflexões de interesse coletivo, quando se olha assim para a cidade e não se vê que um Rodoanel na serra da Cantareira pode ser a tampa do caixão que vai levar a cidade para o brejo?
- (Pois não é que vão levar o Rodoanel para os últimos brejos existentes na cidade, como o da Pedra Branca, na av. Santa Inês, ou da maravilhosa fazenda Santa Maria na Vila Albertina, 200 alqueires remanescentes a 12 km do marco zero?)
- Uma mostra da irreflexão que acompanha todos os megaempreendimentos que se justificam por si só, pela realização financeira internacional de grandes grupos, sem olhar para o entorno e, principalmente, para o futuro?

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